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Canal de Marapendi há 30 anos, em 1985 |
Ontem (10) minha primeira pauta às 9h foi uma visita com o Secretário Estadual do Ambiente, André Corrêa guiada pelo Biólogo Mário Moscatelli na Lagoa da Tijuca que compõe o Complexo Lagunar da Baixada de Jacarepaguá junto das lagoas do Camorim, de Jacarepaguá, Marapendi e Taxas. A pauta era de um colega e troquei na esperança de ser um passeio no mínimo legal, contato com a natureza mesmo sabendo que as lagoas estão um pouco degradadas, aliás, um pouco eu pensava até fazer o passeio.
Entrei na balsa com a minha fotógrafa e mais um monte de coleguinhas da imprensa (até internacional), o passeio estava começando. Dentro dos limites da região de onde partimos, uma área preservada pela iniciativa privada, o passeio estava ótimo com o visual de dentro para fora da lagoa, da natureza observando as construções. Passaram alguns minutos e o cheiro começou a ficar estranho, os animais voavam na direção contrária e logo surgiram copos, potes, brinquedos e todo tipo de lixo boiando ao nosso lado, mas era só o começo.
Tivemos que levantar o motor da balsa para passar pela tentativa de contenção de lixo, e tudo piorou porque a partir dali os objetos submersos eram ainda piores e o cheiro insuportável. Não demorou muito para o piloto da embarcação menor começar a passar as coordenadas para o piloto da balsa para que não encalhássemos porque além do lixo todo que inclui até caçambas onde o lixo deveria ser jogado, a lagoa está secando. O Biólogo Mário Moscatelli saiu da pequena embarcação em que estava acompanhado do Secretário Estadual do Ambiente e para impactar ainda mais, a água batia pouco acima dos joelhos do biólogo.
Há pontos que já formam pequenas ilhas de lodo e lixo. Como disse Moscatelli, “a lagoa está morrendo e cada dia que passa sem nenhuma atitude ser tomada é um crime contra a natureza e nós mesmos”, pena que as autoridades não pensam o mesmo. Adoro estar em contato com a natureza, o visual de dentro para fora da lagoa é lindo, se não olharmos para o espelho d’água e tamparmos o nariz.
Durante o passeio que já não era mais tão agradável assim pensava como o governo, a iniciativa privada e população deixaram as lagoas chegarem a esse ponto, como ninguém deu atenção para elas antes. Foi então que ouvi o Secretário André Corrêa dizer, “a Barra cresceu de costas para as lagoas, temos que trabalhar para que a Barra volte a olhar para elas” e então percebi que o desenvolvimento urbanístico da cidade e do bairro, os avanços tecnológicos e opções de lazer colaboraram para que os passeios de barco em família no Canal do Marapendi se estiguissem, a pesca na Lagoa de Jacarepaguá não fossem mais atraentes para pais e filhos, avôs e netos como ouvi histórias do meu pai.
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Remando no Canal de Marapendi há 46 anos, em 1969 |
E percebi a que ponto chega o egoísmo do ser humano, sem classificar classes sociais, econômicas ou governamentais, mas incluindo todos, todos em um bolo só, todos farinha do mesmo saco. Enquanto usufruíam das águas límpidas seja para o lazer, trabalho ou fonte de renda, elas eram bem cuidadas. Mas quando surgiram empresas para empregá-los ou opções de lazer em praias, parques e shoppings, o amor por elas virou paixão, foi fulminante, bom enquanto durou. Acabou o zelo, a gratidão, o carinho e a história. Eu ouvi muitas histórias do meu pai sobre aquelas águas, mas quando nasci, infelizmente, elas já estavam apodrecendo, quando meu irmão nasceu elas já estavam morrendo e quando meus filhos nascerem talvez elas não existam mais.
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Remando no Canal de Marapendi “amanhã”. Imagem da Baía de Guanabara em dezembro de 2013 |
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